Instituto Politécnico de Viana do Castelo

O PAPEL PRINCIPAL DA AUTOESTIMA

Como investir neste processo contínuo de gostarmos mais de nós.

A autoestima pode ser descrita como a apreciação subjetiva que temos sobre o nosso próprio valor e inclui tudo o que sentimos e pensamos acerca da nossa pessoa - começa a desenvolver-se desde a nossa infância até à adultez através das experiências interiores e com os outros (a forma como somos tratados pelos familiares, professores, amigos, autoridades religiosas, ...). O que vivenciamos e como processamos quando somos crianças vai formar a estrutura fundacional da autoestima e, se formos validados, considerados, incentivados, motivados, ouvidos, respeitados, admirados, amados nesta fase de desenvolvimento, é provável que venhamos a construir uma autoestima mais saudável. Quanto mais nos acharmos merecedores de acontecimentos positivos na vida, maior a satisfação e desempenho, até porque, com uma autoestima mais elevada, tendemos a criar relacionamentos de maior qualidade, a ter mais ferramentas para atingir os nossos objetivos e, perante o desafio, a estar mais capazes de pedir ajuda e aceitar o insucesso. Pela sua influência em todos os domínios da nossa vida (na relação connosco, com os outros e com o mundo), importa investir na promoção da autoestima - podemos começar por avaliar a forma como falamos e cuidamos da nossa própria pessoa (ver artigo sobre discurso interno positivo). A autoestima não é estável, tende a ser flutuante conforme acontecimentos e contextos, mas é possível agir no sentido de manter um nível benéfico de estima pelo próprio – investir tempo em perceber como lidamos e criamos expectativas, estabelecemos e respeitamos limites, gerimos o stresse e o insucesso, comunicamos assertivamente as nossas necessidades. É, definitivamente, um processo consciente, proactivo e contínuo de gostarmos mais de nós.

Quando somos mais críticos e negativos na apreciação da nossa própria pessoa, podemos nos sentir inúteis, insuficientes, pessimistas e desesperançados – o discurso interno estará mais focado nos insucessos e nas imperfeições do que nas metas atingidas e nas competências que podem ser desenvolvidas, condicionando, inevitavelmente, o nosso bem-estar e saúde física e psicológica. Experiências prévias de negligência, abuso, violência (inclui bullying) e trauma podem influenciar a construção de uma baixa autoestima, assim como expectativas irrealistas (dos próprios e dos outros) e relacionamentos menos saudáveis com os pares. É fundamental ter presente o efeito da comparação social, sendo mais eficiente nos compararmos ao nosso eu de ontem: fazer por sermos ainda melhor no dia de hoje, pelo nosso investimento em aprimorar a nossa versão atual.

BENEFÍCIOS DE UMA AUTOESTIMA SAUDÁVEL

  • BEM-ESTAR: tende a fortalecer as emoções positivas, a resiliência e um sentido de realização e felicidade, ajudando a superar desafios com maior confiança e otimismo
  • RELACIONAMENTOS SOCIAIS: tende a contribuir para que sejam construídas ligações mais significativas e favoráveis, com limites e respeito mútuo
  • DESEMPENHO E SUCESSO: tende a promover a motivação e determinação na realização de objetivos e pode reforçar a crença de que somos capazes de atingir o sucesso, garantindo maior confiança para a tomada de riscos e perseverança perante obstáculos

PERGUNTAS IMPORTANTES

  • Sentes que tens o que precisas para ser uma pessoa com sucesso?
  • Acreditas que podes investir em ti e desenvolver as competências que ainda não tens melhoradas?
  • Estás capaz de dar contributos em todos os projetos em que te envolves?
  • Achas que os outros te consideram uma pessoa interessante?
  • Lidas bem com a crítica?
  • Aceitas que nem todos possam gostar de ti?
  • Dás mais relevância à tua opinião sobre ti do que à dos outros?
  • Vives de forma autêntica, sem a necessidade de te ajustares para te sentires aceite pelos outros?
  • Falas para ti como se falasses para uma pessoa que estimas muito?
  • E, agora, a mais importante: gostas saudavelmente de ti?

10 FORMAS DE AUMENTAR A AUTOESTIMA

  • VIVER O TEMPO PRESENTE (focar a atenção e os sentidos no agora, sem ruminar excessivamente o passado ou antecipar o futuro)
  • EXPLORAR UM PROPÓSITO DE VIDA (ter um sentido de missão que nos faça mover o interesse e canalizar a nossa energia e esforço para metas concretizáveis, desenhando planos com objetivos realistas)
  • CULTIVAR A PROATIVIDADE (antecipar desafios com responsabilidade, tomando decisões favoráveis e apostando no nosso potencial e desenvolvimento pessoal para uma melhoria contínua)
  • COMUNICAR COM ASSERTIVIDADE (comunicar com clareza as nossas necessidades e limites)
  • PRATICAR A ACEITAÇÃO (aceitar incondicionalmente a pessoa que somos, com compaixão nos momentos de maior vulnerabilidade e insucesso)
  • VIVER COM AUTENTICIDADE (viver alinhados com os nossos valores)
  • INVESTIR NAS RELAÇÕES SAUDÁVEIS (dedicarmo-nos à nossa ligação com outros significativos que nos façam sentir aceites e encorajados)
  • TER UM DISCURSO INTERNO POSITIVO (estarmos atentos a afirmações menos favoráveis a nosso respeito e procurarmos reformular o nosso diálogo com a nossa pessoa de forma positiva – ver artigo sobre discurso interno)
  • PRATICAR O AUTOCUIDADO (cuidarmos da nossa saúde corporal, psicológica e social)
  • CELEBRAR PEQUENAS VITÓRIAS (ter presente os sucessos, até aqueles aparentemente minúsculos, para nos lembrarmos de que somos capazes)

PÔR EM PRÁTICA

  • O resultado na prova da disciplina X é negativo, sendo provável que nos sintamos desiludidos, mas continua a ser fundamental aceitar e construir um plano de melhoria na oportunidade futura sem que este acontecimento (isolado e possível de ser melhorado) influencie a estima que temos por nós próprios.
  • Apesar do nosso esforço no projeto Y, o professor aponta uma lista de críticas – ainda que seja natural que nos sintamos frustrados, o mais eficiente será olhar para essa lista como uma oportunidade de melhoria e dedicar um tempo a refletir sobre como fazer em futuros projetos.
  • Um amigo especial esqueceu-se de nos felicitar pelo nosso aniversário e sentimo-nos pouco importantes para essa pessoa – podemos usar o humor e comunicar a nossa necessidade através de uma mensagem com efeito cómico “chegou o fatídico dia em que tenho de te avisar que faço anos” ou “estou verdadeiramente feliz por te lembrares do meu aniversário”.
  • Os nossos pais fazem uma comparação entre a nossa pessoa e outra, afirmando que preferiam que fossemos como o filho da vizinha W – em vez de nos aprofundarmos numa discussão que pode vir a ser pouco eficiente e até desgastante, podemos aceitar que os outros nem sempre usam a melhor forma para comunicar as suas necessidades e, eventualmente, procurar clarificar a mensagem que desejariam passar (sem necessariamente entrar num conflito menos favorável).

FRASES INSPIRACIONAIS

  • A opinião mais importante é a que tens sobre ti próprio.
  • Mesmo que sintas que ainda não encontraste o teu caminho, não quer dizer que não tenhas um.
  • Ninguém te pode ferir antes de dares o teu consentimento.
  • És a pessoa com a qual terás a relação mais longa e profunda, pelo que importa gostares da tua própria companhia.
  • A autoestima não é uma propriedade que tens ou não tens, mas um processo em que podes investir todos os dias.

CURIOSIDADE

O MITO DE NARCISO

É provável que já tenhas ouvido alguém dizer que, para enfrentar os desafios da vida, temos de ter uma quantidade razoável de narcisismo, nesta alusão ao deslumbre pela nossa própria pessoa como mecanismo de defesa e incentivo. Na mitologia grega, o adivinho Tirésias terá dito aos pais de Narciso, um deus e uma ninfa, que o filho teria uma vida longa desde que nunca contemplasse a própria figura. Pela sua aparência, ele tendia a despertar o amor em todos, mas preferia sempre viver só – até que uma das ninfas recusadas pediu à deusa da vingança, Némesis, que o amaldiçoasse: amar alguém que não pudesse possuir. Então, Narciso, acabou por ver-se no reflexo das águas e, num instante de vaidade, ter-se-á apaixonado pela sua beleza, acabando por morrer neste estado tão deslumbrado por si próprio. A deusa Némesis o terá transformado, depois, numa flor: o Narciso. Há mais de dois mil anos que esta narrativa tem inspirado artistas, dos mais clássicos aos contemporâneos, e aparecido em múltiplas versões. O termo narcisismo vem, precisamente, do nome desta figura mitológica, derivando da palavra grega “narke” (entorpecimento), apontando para o tema da individualidade, o risco do autodeslumbramento e a importância de vivermos em ligação com os outros.

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