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SAÚDE MENTAL POSITIVA
Aprender a dançar entre os desafios da vida.
Estar mentalmente saudável é mais do que apresentar níveis reduzidos de sintomatologia psicopatológica (como a depressão ou ansiedade) – poderia ser definido (OMS) como um estado de equilíbrio que permite funcionar produtivamente, realizar o próprio potencial, gerir os desafios do dia a dia e dar um contributo positivo para a comunidade.
A Saúde Mental Positiva pode ser considerada um complemento: é estarmos conscientes da importância de agir (proativamente) para nos sentirmos o melhor possível dentro das circunstâncias (e inclui termos um plano de ação, criarmos oportunidades de mudança e melhoria, estarmos otimistas, sentirmos uma autoestima positiva, mantermos relações interpessoais saudáveis e satisfatórias, aceitarmos os outros e os acontecimentos, resolvermos os problemas e regularmos as emoções). Mesmo que estejamos mais vulneráveis ou até a experimentarmos uma doença mental, é recomendável investirmos no aumento da nossa saúde mental positiva, garantindo uma melhor saúde integral, uma maior qualidade de vida e, também, realização.
Apostar na Saúde Mental Positiva não é estarmos sempre bem mas, sim, estarmos capazes de gerir mais eficientemente os acontecimentos, positivos e negativos, favoráveis e adversos, para que continuemos num estado de equilíbrio que permita continuarmos em florescimento da pessoa que somos, com uma maior consciencialização das nossas vulnerabilidades e potencialidades, assim como dos recursos e serviços que podemos usar a favor do nosso bem-estar.
PERGUNTAS IMPORTANTES
10 FORMAS DE AUMENTAR A SAÚDE MENTAL POSITIVA
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FRASES INSPIRACIONAIS
CURIOSIDADE
A Psicologia Positiva vem da tentativa da ciência psicológica se desviar de uma intervenção muito focada nos sintomas psicopatológicos e nos diagnósticos de doença mental para investir mais nas potencialidades da população saudável e nas práticas para melhorar o bem-estar individual e coletivo. Embora venhamos a discutir a questão da felicidade desde a Grécia Antiga (eudaimonia / o estado do bom espírito), é mais recente este movimento com interesse em encontrar evidência científica para promover uma experiência de vida mais satisfatória. A Psicologia Positiva começa a ser tema internacional com Martin Seligman (1998), ao encorajar a investigação e prática sobre os fatores que contribuem para uma maior felicidade e bem-estar subjetivo. Mais recentemente, o autor Flourish (2011) aponta para cinco elementos nucleares para uma vida com maior qualidade: (1) emoções positivas, (2) envolvimento entusiástico em atividades, (3) relações interpessoais saudáveis, (4) propósito de vida e (5) realização pessoal e coletiva. Há tantos outros nomes que podem ser consultados e com conteúdos críticos que podem servir para reflexão e desenvolvimento de planos de melhoria na nossa vida. No entanto, há também críticas a esta derivação dentro da Psicologia, como a difusão de uma narrativa ilusória de que somos únicos responsáveis pela nossa experiência, de uma positividade tóxica (quando é fundamental aceitar que a vida, além das potencialidades e vitórias, tem desafios e perdas) e um desvio na atenção sobre a doença mental (quando um diagnóstico pode dar pistas importantes para uma intervenção/tratamento/melhoria eficiente).
RESILIÊNCIA
Melhora a tua mestria em superar a adversidade.
A resiliência pode ser descrita como a capacidade de SUPERAR A ADVERSIDADE através do uso de recursos (conteúdos, estratégias, serviços) e é fundamental para lidarmos favoravelmente com situações consideradas exigentes de forma a concretizarmos as nossas metas com sucesso. Todos temos o nosso patamar de resiliência, que poderá estar mais ou menos elevado conforme as nossas experiências e desenvolvimento – mas estamos sempre a tempo de investir mais na promoção desta capacidade de superação.
Ser resiliente não é sinónimo de estar pronto para suportar todo o peso da vida – pelo contrário, é ter presente os nossos limites, aceitar/partilhar a nossa vulnerabilidade e agir (competências/estratégias) com a intenção de uma vida (pessoal, social, académica) mais eficiente e saudável.
RESILIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR
A transição para o ensino superior é uma celebração mas, pelas mudanças e exigências que se levantam, pode também aumentar a exposição a estímulos consideradas stressores - tarefas académicas mais complexas, uma aprendizagem mais autónoma, novos espaços e redes sociais e a separação da família - o que pode ter impacto no teu bem-estar emocional/psicológico/social (traduzido em níveis mais baixos de saúde mental), sendo importante termos um conjunto de estratégias e outros recursos (dentro e fora de nós) que nos permitam agir para converter riscos em resolução e evolução.
PERGUNTAS IMPORTANTES
ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO MAIS OU MENOS ADAPTATIVAS
Há a máxima de que a adversidade não é em si o problema mas, sim, a forma como a procuramos enfrentar – isto é, as estratégias de superação que usamos para lidar com os desafios é que têm o poder de aumentar ou reduzir a nossa produtividade e bem-estar.
O uso de estratégias mais proativas/ativas, como a procura de suporte emocional e instrumental, a aceitação, o humor, a reestruturação da perspetiva e a resolução de problemas pode contribuir para uma solução mais satisfatória e, inevitavelmente, para uma maior eficiência e bem-estar.
10 FORMAS DE AUMENTAR A RESILIÊNCIA
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FRASES INSPIRACIONAIS
CURIOSIDADE
Há cinco séculos, em chão japonês, inventa-se uma apreciada técnica artesanal que procura reparar peças de cerâmica quebradas ao unir os fragmentos com um verniz polvilhado a ouro: kintsugi. A forma original é consertada mas as fendas, agora douradas, ficam visíveis e transformam a essência estética da peça, evocando o desgaste que o tempo provoca sobre as coisas físicas, a mutabilidade da identidade e o valor da imperfeição. Assim, em vez de camuflar as fissuras, as peças recuperadas exibem as feridas do passado e assumem uma nova vida para o futuro. A filosofia vinculada ao kintsugi pode aplicar-se à nossa experiência de vida: nesta procura continuada por sucesso e perfeição, experimentamos também fracassos, desenganos e perdas – e pode haver a tentação de esconder a nossa natureza frágil com uma aparência de poder e infalibilidade. Mas, para sermos humanos inteiros, importa aceitar as fendas, apreciar a beleza das cicatrizes e destacar a grandeza em cada história de superação
A CIÊNCIA DO VERBO STRESSAR
Orientações para gerires melhor o stresse no ensino superior.
Todos sentimos stresse, particularmente quando consideramos que não estamos capazes de enfrentar uma situação percebida como desafiante e complexa – a nossa resposta vai depender do nível de desenvolvimento da resiliência de cada um e, portanto, da forma como estamos preparados para usar os nossos recursos para resolver e avançar para um estado emocional mais confortável.
A resposta do stresse está ligada a uma função de manutenção da estabilidade – isto é, perante uma avaliação de risco (pode ser a sensação de fome, uma prova académica, uma perda significativa ou um acontecimento importante), o corpo tem uma resposta neurofisiológica e psicológica que procura levar a pessoa à ação no sentido de superar e voltar a um estado de equilíbrio. Quando o stresse se torna excessivo, a evidência mostra o impacto negativo no bem-estar e desenvolvimento, sendo fundamental aprendermos competências e estratégias eficientes na redução/gestão do stresse para promoção da qualidade de vida.
A CIÊNCIA DO VERBO STRESSAR
Há duas hormonas principais: (1) a adrenalina, produzida nas glândulas suprarrenais, prepara o organismo para a ação, elevando a tensão arterial e a entrada de oxigénio, sendo responsável pela resposta de fuga-luta-congelamento e (2) o cortisol, também produzido pelas mesmas glândulas, elevando o açúcar no sangue, para maior energia muscular.
SINTOMAS PROVÁVEIS
Quando estamos expostos a stressores que podem estimular a resposta do stresse no nosso corpo, podemos experimentar sintomas distintos e que se manifestam diferentemente em cada pessoa:
CAUSAS MÚLTIPLAS
Ainda que o risco/ameaça/exigência de uma situação dependa sempre da perceção de cada indivíduo, com toda a sua história e recursos, há uma lista de ocorrências que parecem aumentar o nível de stresse nos estudantes de ensino superior:
+ FOCADAS NO PROBLEMA
+ FOCADAS NA EMOÇÃO
+ FOCADAS NOS RELACIONAMENTOS
PERGUNTAS IMPORTANTES
10 FORMAS PARA REDUZIR O STRESSE E AUMENTAR O BEM-ESTAR
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CURIOSIDADE
O TEU MAL É SONO!
Fazer do sono uma prioridade.
60% DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR RELATAM HORAS DE SONO INSUFICIENTES
Sim, sabemos dos horários ocupados com aulas e trabalhos académicos, das atividades extracurriculares, do convívio social, dos jantares de curso e das festas temáticas mas hábitos menos saudáveis de sono (e privação) podem ter um impacto negativo no teu funcionamento e até desempenho académico. Vamos fazer do sono uma prioridade? Vamos explicar porquê.
Equilibrar todas as exigências do ensino superior numa linha de tempo saudável pode ser um verdadeiro desafio e é provável sentires que as 24 horas do dia não são suficientes para responder a tudo o que precisas ou gostarias – com tantas prioridades na lista de afazeres, é comum retirarmos tempo ao nosso intervalo de sono. Contudo, além da sonolência na manhã seguinte, uma alteração regular na qualidade do sono terá inevitavelmente interferência no nosso bem-estar, saúde física e mental e desempenho académico, pondo em causa o nosso sucesso.
O NÚMERO 8
Estudos sobre o sono apontam que estudantes do ensino superior precisariam, em média, de 8 horas (entre 7 a 9 horas) de sono – um especialista do sono responde que podemos fazer um teste e perceber a que horas acordaríamos se não fosse obrigatório nos levantarmos. A maioria dos estudantes dorme um número de horas muito abaixo do recomendado e outros tantos tenta compensar ao fim de semana – contudo, este padrão, não é nem saudável nem solução para a privação do sono.
A IMPORTÂNCIA DO SONO
CONSEQUÊNCIAS DA PRIVAÇÃO DE SONO
VANTAGENS EM DAR PRIORIDADE AO SONO NO ENSINO SUPERIOR
As vantagens de dormir tempo suficiente e com qualidade todos os dias são evidentes, particularmente, no desempenho académico. Ao melhorares a tua atenção ao pormenor, foco e concentração, assim como uma maior capacidade para consolidar as memórias, vais tornar-te, inevitavelmente, mais produtivo(a) e mais eficaz a lidar com stresse - é um círculo vicioso: quanto mais stressados(as) nos sentirmos, menos dormimos – e quanto menos dormirmos, mais stressado(a) nos sentimos - - - - e, a longo prazo, pode até evoluir para doença mental, como a depressão e a ansiedade).
Assim, priorizar o sono, ao estabelecer um horário regular e uma duração suficiente, pode mesmo criar um retorno positivo na capacidade de lidar com stresse - e quanto menos nos sentirmos stressados(as) durante o dia, melhor dormiremos durante a noite.
PARA FICARES CONVENCIDO DA IMPORTÂNCIA DO SONO
Faz apontamentos num diário sobre a tua rotina do sono e como te sentes durante o dia pelo intervalo de uma semana – é uma forma incrível de perceberes o impacto de hábitos (não) saudáveis de sono no teu dia-a-dia (e, portanto, no teu relacionamento contigo, com os outros, na aprendizagem e bem-estar).
PERGUNTAS IMPORTANTES
10 FORMAS DE MELHORAR O TEU SONO
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CURIOSIDADE
A investigação tem vindo a demonstrar factos interessantes sobre o processo do sono.
Sabias que 12% da população sonha a preto e branco e que o ser humano é o único animal que adia a vontade de dormir?
NÓS E OS OUTROS
A grande vantagem de construirmos relacionamentos interpessoais saudáveis.
Somos animais sociais e funcionamos melhor quando temos outros à nossa volta capazes de nos ajudar a superar desafios e a celebrar vitórias – a necessidade de interação social começa cedo e continua a ampliar-se com maior sofisticação e especificidade conforme nos vamos desenvolvendo: não importa a idade, precisamos de construir e manter relações íntimas saudáveis para maiores níveis de satisfação e saúde (está comprovado que conexões sociais de qualidade promovem o bem-estar físico e psicológico e a longevidade).
É, assim, fundamental investirmos no desenvolvimento de competências sociais, emocionais e comunicacionais pois, quanto melhor preparados estivermos para facilitar e promover a qualidade dos nossos relacionamentos interpessoais (inclui a relação com o eu), maior o nosso bem-estar pessoal/social/profissional e o dos outros também.
A NOSSA RELAÇÃO COM O EU
Uma das mais desafiantes e profundas relações nas quais importa investir é aquela com a nossa pessoa, acolhendo as virtudes e defeitos, com compaixão e amor incondicional, pois só assim poderemos oferecer uma relação autêntica e saudável connosco e com os outros. Mesmo que nos sintamos menos satisfeitos ou realizados, é possível criar o nosso plano de melhoria, com a lista das competências ou circunstâncias que gostaríamos de ver promovidas, e procurar com que estas se concretizem, seja através de oportunidades de desenvolvimento pessoal ou ajuda profissional. Também muito importante é termos presente, todos os dias, o impacto positivo do autocuidado – assim, nem que seja por quinze minutos diários, dedica um tempo das tuas 24 horas a cuidar de ti (através de uma refeição saudável, uma caminhada, uma aula de música, uma saída com um amigo, ou outra atividade que te faça sentir bem).
RELACIONAMENTOS ABUSIVOS
Com o tempo, os relacionamentos vão-se tornando mais complexos do que na infância e é claro um continuum entre relação saudável e abusiva (influência tóxica), pelo que importa estarmos atentos às dinâmicas que se vão estabelecendo e como vão evoluindo. Sabemos que há relacionamentos que podem manifestar-se abusivos (com abuso físico, emocional, social, financeiro, sexual, ...), marcados por uma necessidade excessiva de dominação/controlo do outro, em que uma das partes acaba por ser considerada com menor valor/poder e, portanto, com as suas necessidades e interesses desconsiderados pelo outro. Este tipo de interação tem, inevitavelmente, um impacto negativo no nosso bem-estar, podendo, até, assumir contornos mais graves, sendo fundamental contarmos com ajuda de amigos ou profissionais para garantia de segurança e suporte.
MAIS INFO
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10 FORMAS DE MELHORAR O TEU SONO
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CURIOSIDADE
A qualidade das relações interpessoais que vamos tendo desde a nossa infância tem um efeito cumulativo na nossa saúde física e psicológica no presente e futuro – é incrível o poder dos relacionamentos no nosso bem-estar e propósito de vida, pelo que cada interação saudável tem um valor precioso. A ciência tem vindo a comprovar que a solidão pode ter um impacto tão negativo ou superior ao consumo de álcool, tabaco, má alimentação e poluição, motivo pelo qual países como Inglaterra e Japão, precisamente por considerarem este um problema epidémico e prioritário do nosso século, criaram o Ministério da Solidão.
O PAPEL PRINCIPAL DA AUTOESTIMA
Como investir neste processo contínuo de gostarmos mais de nós.
A autoestima pode ser descrita como a apreciação subjetiva que temos sobre o nosso próprio valor e inclui tudo o que sentimos e pensamos acerca da nossa pessoa - começa a desenvolver-se desde a nossa infância até à adultez através das experiências interiores e com os outros (a forma como somos tratados pelos familiares, professores, amigos, autoridades religiosas, ...). O que vivenciamos e como processamos quando somos crianças vai formar a estrutura fundacional da autoestima e, se formos validados, considerados, incentivados, motivados, ouvidos, respeitados, admirados, amados nesta fase de desenvolvimento, é provável que venhamos a construir uma autoestima mais saudável. Quanto mais nos acharmos merecedores de acontecimentos positivos na vida, maior a satisfação e desempenho, até porque, com uma autoestima mais elevada, tendemos a criar relacionamentos de maior qualidade, a ter mais ferramentas para atingir os nossos objetivos e, perante o desafio, a estar mais capazes de pedir ajuda e aceitar o insucesso. Pela sua influência em todos os domínios da nossa vida (na relação connosco, com os outros e com o mundo), importa investir na promoção da autoestima - podemos começar por avaliar a forma como falamos e cuidamos da nossa própria pessoa (ver artigo sobre discurso interno positivo). A autoestima não é estável, tende a ser flutuante conforme acontecimentos e contextos, mas é possível agir no sentido de manter um nível benéfico de estima pelo próprio – investir tempo em perceber como lidamos e criamos expectativas, estabelecemos e respeitamos limites, gerimos o stresse e o insucesso, comunicamos assertivamente as nossas necessidades. É, definitivamente, um processo consciente, proactivo e contínuo de gostarmos mais de nós.
Quando somos mais críticos e negativos na apreciação da nossa própria pessoa, podemos nos sentir inúteis, insuficientes, pessimistas e desesperançados – o discurso interno estará mais focado nos insucessos e nas imperfeições do que nas metas atingidas e nas competências que podem ser desenvolvidas, condicionando, inevitavelmente, o nosso bem-estar e saúde física e psicológica. Experiências prévias de negligência, abuso, violência (inclui bullying) e trauma podem influenciar a construção de uma baixa autoestima, assim como expectativas irrealistas (dos próprios e dos outros) e relacionamentos menos saudáveis com os pares. É fundamental ter presente o efeito da comparação social, sendo mais eficiente nos compararmos ao nosso eu de ontem: fazer por sermos ainda melhor no dia de hoje, pelo nosso investimento em aprimorar a nossa versão atual.
BENEFÍCIOS DE UMA AUTOESTIMA SAUDÁVEL
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10 FORMAS DE AUMENTAR A AUTOESTIMA
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CURIOSIDADE
O MITO DE NARCISOÉ provável que já tenhas ouvido alguém dizer que, para enfrentar os desafios da vida, temos de ter uma quantidade razoável de narcisismo, nesta alusão ao deslumbre pela nossa própria pessoa como mecanismo de defesa e incentivo. Na mitologia grega, o adivinho Tirésias terá dito aos pais de Narciso, um deus e uma ninfa, que o filho teria uma vida longa desde que nunca contemplasse a própria figura. Pela sua aparência, ele tendia a despertar o amor em todos, mas preferia sempre viver só – até que uma das ninfas recusadas pediu à deusa da vingança, Némesis, que o amaldiçoasse: amar alguém que não pudesse possuir. Então, Narciso, acabou por ver-se no reflexo das águas e, num instante de vaidade, ter-se-á apaixonado pela sua beleza, acabando por morrer neste estado tão deslumbrado por si próprio. A deusa Némesis o terá transformado, depois, numa flor: o Narciso. Há mais de dois mil anos que esta narrativa tem inspirado artistas, dos mais clássicos aos contemporâneos, e aparecido em múltiplas versões. O termo narcisismo vem, precisamente, do nome desta figura mitológica, derivando da palavra grega “narke” (entorpecimento), apontando para o tema da individualidade, o risco do autodeslumbramento e a importância de vivermos em ligação com os outros.
TEMPO DE AUTOCUIDADO
Dar prioridade ao prioritário.
A transição para o ensino superior levanta novos cenários, desafios e exigências, o que pode ser muito estimulante mas também ameaçador para o equilíbrio entre a vida pessoal, social e académica, sendo fundamental apostar no uso de estratégias de gestão do stresse e na priorização do autocuidado para garantir um maior bem-estar e produtividade.
A evidência científica tem vindo a mostrar que o autocuidado aumenta a saúde corporal e mental, pelo que importa estarmos comprometidos em dar prioridade ao prioritário, isto é, ter presente as nossas capacidades mas também os nossos limites – não dar resposta às nossas necessidades físicas e psicológicas pode aumentar as emoções negativas e a irritabilidade, reduzir a autoestima e a motivação, comprometer o sono recuperador e a energia, o que, inevitavelmente, terá impacto na qualidade de vida e desempenho.
A primeira grande pergunta é simples mas principal: já decidiste colocar o autocuidado na tua agenda? A tua resposta fará a diferença HOJE.
Podemos, então, dizer que o autocuidado é um processo contínuo de atenção às nossas múltiplas necessidades e um investimento proativo em atividades e estratégias que tendem a melhorar a nossa saúde integral e o nosso bem-estar, promovendo também a resiliência e até a longevidade. No entanto, o autocuidado não tem uma prescrição única e deve ser o próprio a explorar e decidir o que o faz sentir bem.
TIPOS DE AUTOCUIDADO
FÍSICO
/ cuidar do teu corpo
EMOCIONAL
/cuidar das tuas emoções
SOCIAL
/cuidar das tuas relações
DIGITAL
/cuidar da tua ligação com ecrãs
ESPIRITUAL
/cuidar da tua experiência de vida
PERGUNTAS IMPORTANTES
10 FORMAS DE AUMENTAR A AUTOESTIMA
SALVAR O DIA
Todos os dias importam para a nossa experiência de vida. Claro, há dias que podem ser mais desafiantes que outros, até mais difíceis e marcantes, mas termos a regra de salvar cada dia faz com que assumamos a responsabilidade por aumentar o nosso bem-estar nas vinte e quatro horas de hoje. A decisão é, acima de tudo, nossa. Apreciar a borboleta que nos pousou na mão. Ouvir a nossa música preferida. Escrever uma mensagem a um amigo de infância. Marcar uma ida ao cinema com um colega da escola. Dormir uma sesta. Respirar devagar. Ter esperança. Podem bastar 15 minutos. E esse curto intervalo de tempo pode verdadeiramente fazer a diferença.
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CURIOSIDADE
/ Criatividade: uma prática de autocuidadoO uso da criatividade tem sido apontado como uma prática de autocuidado com elevado potencial – na vida tendencialmente ocupada, dedicar um intervalo de tempo a desenhar, escrever, fotografar ou outro verbo criativo pode ter o mesmo impacto na promoção do bem-estar que um exercício de meditação. Além de desacelerar o movimento rápido do dia, a sua prática foca a experiência sensorial e emocional no momento presente (mindfulness), aumenta a sensação de relaxamento e até o autoconhecimento. Consideras não ter jeito para as artes? Experimenta. Um lápis, uma folha de papel, a câmara do telemóvel – e, claro, a vontade de dar asas à tua expressividade.
DISCURSO INTERNO POSITIVO
O poder do nosso diálogo interior.
O nosso discurso interno acontece a cada minuto dentro da nossa cabeça – é o diálogo interior que mantermos com a nossa própria pessoa, influenciado pelas nossas experiências, contextos e traços. A evidência científica tem vindo a mostrar que um discurso interno positivo é uma ferramenta importante para aumentar o nosso bem-estar, pois a forma como falamos connosco vai condicionar o que pensamos e sentimos e a resposta que damos aos acontecimentos. Estudos apontam que um discurso interno positivo melhora a qualidade de vida e a produtividade, pelo que importa encorajar uma visão mais otimista e de suporte, assim como aumentar as nossas estratégias de redução do stresse e outros instrumentos que nos ajudem a sentir mais confiança e resiliência. O número de benefícios na saúde integral e bem-estar é elevado, precisamente por associar-se um discurso interno positivo a maiores competências para resolver problemas, pensar mais divergente e confrontar situações desafiantes, o que tende a reduzir os efeitos negativos do stresse e ansiedade.
BENEFÍCIOS
POSITIVAR O DISCURSO INTERNO NEGATIVO
Pela grande influência do nosso discurso interno nas nossas emoções, pensamentos e ações, importa dedicar algum tempo a perceber como tendemos a falar com a nossa própria pessoa – se é um diálogo que incentiva e ajuda ou, se pelo contrário, aponta o dedo e desmotiva. Para tornarmos o nosso discurso interno mais positivo é fundamental estarmos capazes de identificar o viés negativo (basta começar a prestar atenção à forma como falamos e até registar por escrito), pois, inconscientemente, podemos estar a cair em armadilhas de pensamento que acabam por nos dar uma visão menos funcional e construtiva da realidade.
EXEMPLOS DE VIESES DO PENSAMENTO
Reconhecer os vieses negativos do pensamento é um primeiro grande passo para questionar os nossos padrões e ajustar o nosso discurso interno num sentido mais positivo – não é do dia para a noite, claro, mas, sim, um processo que pede tempo, reflexão e prática. A forma como falamos para a nossa própria pessoa resulta da nossa história, com todos os condicionantes biológicos, psicológicos, sociais e culturais, mas, com intenção e ação, é possível treinar uma reformulação mais positiva (até se tornar a nova norma). Pode haver a tendência para os pensamentos negativos entrarem num movimento repetitivo (ruminação) e andarem à volta na nossa cabeça, num efeito “bola de neve” (que fica maior à medida que rola pelo chão), sendo importante sabermos parar através do uso de estratégias de confronto que nos ajudem a manter a nossa mente um lugar consciente e saudável.
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PERGUNTAS IMPORTANTES
10 FORMAS DE TORNAR O DISCURSO INTERNO MAIS POSITIVO
FRASES INSPIRACIONAIS
CURIOSIDADE
/ O PODER DAS PALAVRASAs palavras são instrumentos poderosos que não se resumem à definição do dicionário e a que nem sempre prestamos a devida atenção. Estudos têm vindo a mostrar que diferentes palavras podem ativar áreas específicas do cérebro e, assim, afetar a experiência subjetiva da realidade – quase que poderíamos dizer que somos feitos de palavras (e não apenas “pó de estrelas”, como terá dito o cientista Carl Sagan). Um exercício interessante poderá ser estares atento às palavras que usas quando algum acontecimento não corre como tinhas previsto. Por exemplo: tinhas combinado um encontro com um grande amigo que não vês há muito tempo, mas tens um imprevisto. Que palavras usas para falar contigo dentro da tua cabeça? Usas palavras alinhadas de forma positiva e esperançosa ou tendes a um discurso mais negativo e catastrófico? A evidência científica alerta que não é apenas o que dizemos sobre nós próprios que conta, mas as palavras que usamos para contar a nossa história.
COMO POTENCIAR O ESTUDO & DESEMPENHO
Simples gestos que podem aumentar o teu sucesso.
A maioria dos estudantes experimenta stresse durante a época de exames (e outros momentos de avaliação, como a apresentação em público de trabalhos), o que pode funcionar como desafio e estímulo ao esforço se gerido com eficiência, mas, se excessivo, pode interferir negativamente na saúde física e psicológica, comprometendo o bem-estar e até o desempenho académico. Assim, importa teres presente um conjunto de estratégias que possam ajudar na gestão saudável do stresse e na promoção da tua qualidade de vida, particularmente durante o período de avaliações.
SINTOMAS PROVÁVEIS
MOTIVOS DO STRESSE DE AVALIAÇÃO
PERGUNTAS IMPORTANTES
O QUE PODE AJUDAR
10 FORMAS DE MELHORAR O ESTUDO
MAS NÃO BASTA ESTUDAR, TAMBÉM TENS DE CUIDAR
10 FORMAS DE MELHORAR O TEU DESEMPENHO
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FRASES INSPIRACIONAIS
CURIOSIDADE
/ O CÉREBRO (NÃO) É UM COMPUTADORDurante muito tempo pensou-se que a razão e a emoção seriam coisas diferentes e separáveis - mais, que a emoção influenciaria negativamente o pensamento, que se desejaria mais racional - até a neurociência atual nos dizer, claramente, que não se pode pensar sem sentir. Isto porque o nosso processamento de informação não é como o de um computador, que processa, analisa, armazena, categoriza e classifica sem uma leitura emocional (mas apenas racional ou algorítmica) – nós, humanos, temos um cérebro com emoções e sentimentos que condicionam os processos mentais mais complexos, como a tomada de decisão e o planeamento, dando uma orientação subjetiva baseada no que estamos a sentir. Assim, para a aprendizagem acontecer (leia-se estudo, também), importa que nos sintamos seguros, confortáveis e até motivados com as tarefas que temos para concretizar – se nos sentirmos ameaçados, desconfortáveis, inseguros, a acessibilidade a funções cognitivas superiores (como a retenção, o planeamento, a monitorização e a verificação) fica comprometida e, inevitavelmente, também o processo de aprendizagem. Por isso, é fundamental que nos sintamos bem e cuidemos do nosso universo emocional (nos tornarmos mais competentes a regular as nossas emoções – identificar o que estamos a sentir, explorar os motivos, saber expressar e usar estratégias para mudar positivamente o nosso estado) para que a aprendizagem possa ser significativa e o desempenho favorável.
PRIMEIRO ANO NO ENSINO SUPERIOR
E como potenciar positivamente a tua experiência.
PERGUNTAS IMPORTANTES
10 FORMAS DE POTENCIAR POSITIVAMENTE A TUA EXPERIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR
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FRASES INSPIRACIONAIS
CURIOSIDADE
/ ENSINO SUPERIOR E FELICIDADELaura Sagnier, da coordenação do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos “Os Jovens em Portugal, Hoje” (2021), aponta que, um curso superior, mais do que garantir a felicidade, diminui a infelicidade - um curso superior dá as ferramentas para se tomarem melhores decisões na vida, mas a vida continua a ter riscos. Uma das conclusões do estudo é de que um nível de escolaridade mais elevado garante aos jovens melhores condições de vida, não apenas no trabalho e rendimentos, mas também nas relações pessoais e no grau de satisfação diária.